Por Sabrina Pacca
O prédio do Theatro Vasques, cartão postal de Mogi das Cruzes, pede socorro. Ontem, após a chuva, o esgoto voltou pela tubulação de um banheiro que existe no térreo, ao lado do palco, e invadiu a parte de carpete que existe na frente das cadeiras (o fosso de orquestra). A reportagem da Vanguarda conseguiu fotos do ocorrido que, segundo apuramos, é um problema recorrente e necessitaria de uma intervenção nas tubulações do Serviço Municipal de Águas e Esgotos (Semae), do lado externo do imóvel. Além disso, infiltrações, rachaduras, pinturas descascadas e até tijolo centenário aparecendo, por causa da degradação, podem ser percebidos.
Tivemos a informação de não precisa de uma chuva muito forte para que o esgoto retorne pela tubulação do banheiro que está localizado do lado direito do palco, na parte de baixo. Os dejetos voltam e inundam o fosso e parte da lateral. Por diversas vezes isso já ocorreu, há anos, sem que a Administração Municipal tome uma providência, sem que o Semae modifique a rede naquele local, afim de evitar o retorno do esgoto pelos canos.
Ontem mesmo, aconteceu duas vezes. De manhã e à tarde. O cheiro no interior do prédio era insuportável e não há como abrir o espaço para uso, por causa da possibilidade de contaminação. Para a higienização do carpete, há necessidade de gastos altos com uso de ozônio, que é um gás oxidante de alta eficácia no combate a micro-organismos como bactérias, vírus e fungos.
Outro problema acontece na cabine da técnica, que fica no piso superior, no fundo da plateia. Uma infiltração do telhado acabou causando queda de energia, problema gravíssimo para um local cheio de equipamentos elétricos.
Abandono
É visível, para qualquer pessoa, que o prédio do Theatro Vasques está abandonado. O Poder Público deveria preservá-lo, já que faz parte do nosso patrimônio histórico, mas ao contrário disso, não se fez nada pela preservação, conservação e manutenção.
Na fachada, os buracos nas paredes são grandes e profundos. Registramos o tijolo centenário de que foi feito o Vasques, no início do século passado, em 1901, aparente, exposto à sol e chuva. Portas e janelas de madeira degradadas, vidros quebrados, detalhes arquitetônicos desaparecendo com as quebras de reboco. Uma lástima.
A Vanguarda procurou o presidente da Comissão Permanente de Cultura, Esporte e Turismo da Câmara Municipal, vereador Edinho do Salão (PP) que, abismado com o que viu, prometeu comunicar aos demais membros da Comissão e vistoriar o prédio do Theatro.
Tentamos uma resposta da Prefeitura, por meio da coordenadoria de comunicação, mas não houve retorno de nossa demanda.
História
Segundo informações do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Paisagístico de Mogi das Cruzes (Comphap), a ideia da construção do prédio nasceu do movimento de um grupo de mogianos, que arrecadaram o dinheiro necessário vendendo ações. A pedra fundamental foi lançada em 19 de setembro de 1901 e o Theatro foi inaugurado em 06 de dezembro de 1902. Com o advento do cinema e o declínio de certos espetáculos teatrais, o Theatro Vasques acabou tornando-se sede da Câmara Municipal de 1936 a 1937, quando foi fechado pelo Estado Novo, e só foi reaberto em 1948 para abrigar novamente a Câmara Municipal.
A partir de 1980, o teatro é reformado e reinaugurado, como Teatro Municipal “Paschoal Carlos Magno”. Após nova reforma em 2002, o Teatro volta a chamar-se “Theatro Vasques”. O projeto original do edifício, cenografia, pintura e distribuição interna, inclusive os camarins, foram confiados ao ator Roque de Castilhos, ex-aluno da Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
Tombamento
O processo de tombamento do Theatro Vasques começou em 2008 e, em 2012, o então presidente do Comphap na época, João Francisco Chavedar, assinou a resolução que tombou o prédio. O documento é claro quanto à responsabilidade do Executivo, como mostramos abaixo.
Parágrafo 1º – Deverão ser protegidos os seguintes elementos do respectivo bem tombado:
a. Alvenarias conforme indicação nos Anexos nºs 04/09 e 05/09;
b. Caixilhos, portas, janelas e batentes das alvenarias mencionadas na alínea “a”;
c. Entablamentos: arquitraves, frisos e cornijas;
d. Marquise e frontão;
e. Balaustres;
f. Ombreiras e molduras