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Prefeitura faz licitação de registro de preços de alimentos processados e congelados para a merenda

A Prefeitura de Mogi das Cruzes finalizou um pregão para registro de preços de alimentos para a merenda escolar. Chama a atenção a quantidade de produtos estimados, tais como 15 mil unidades de abacaxis e 90 mil quilos de melancia, entre outros produtos citados em milhares de quilos, unidades e caixas. De fato, a Rede Municipal de Ensino é grande. Conta com 46 mil alunos, incluindo as subvencionadas. Apesar do edital ser claro em dizer que o Executivo não é obrigado a consumir as quantidades estimadas, também não foram admitidas propostas com quantidades menores. Porém, o problema maior não se refere às quantias, mas sim à qualidade dos produtos que serão ofertados às crianças. Há uma boa parte deles processados e congelados, incluindo laranjas já descascadas – um crime nutricional, segundo especialistas, jamais visto na merenda mogiana.

Quatro empresas foram escolhidas no pregão: Castor Alimentos LTDA, em recuperação judicial; Charbel Participações LTDA; L&V Distribuidora LTDA e Merenda Prime Comércio de Alimentos LTDA. O valor total da homologação é de R$ 31.189.564,50 e as propostas dessas empresas foram consideradas as mais vantajosas e convenientes, segundo a Prefeitura.

Alimentos processados e congelados

Uma premissa na alimentação escolar em Mogi das Cruzes, desde 2001, é a de que ela seja o mais natural possível, com alimentos adquiridos especialmente da agricultura familiar. Até mesmo na gestão do prefeito Caio Cunha isso aconteceu. Entretanto, a Prefeitura orçou para o próximo ano, dezenas de produtos processados e congelados.  Qual a razão para isso? Entregar para o próximo governo o que chamamos de ´presente de grego`?

Por exemplo, 15 mil quilos de alho já descascado; 187.500 porções de laranja pera descascada e cortada em rodelas; 187 mil laranjas pera inteiras, já descascadas, embaladas individualmente; 15 mil quilos de abóbora processada, descascada, cortada em cubos, congelada e embalada em sacos de 1,5 kg; 15 mil quilos de abobrinha cortada em palito, congelada; 15 mil quilos de batatas cortadas em cubo e congeladas; 7.500 quilos de mix de batatas doce cortadas em cubos e congeladas; beterraba, brócolis, cenoura, chuchu, couve-flor, milho e até tomates, tudo processado, descascado, cortado e congelado.

A Vanguarda conversou com quatro diretoras de escolas subvencionadas e duas merendeiras de escolas municipais. Elas não autorizaram a identificação de seus nomes, mas foram categóricas: nunca houve a compra ou entrega de alimentos processados e congelados, a não ser as carnes, que obviamente são congeladas. Produtos de hortifruti sempre foram in natura e frescos. ´Nunca vi isso na nossa merenda. Sempre chegam os produtos in natura`, afirmou uma das diretoras. ´Fiquei surpresa com esse registro de preços que englobou esses produtos congelados. Todas nós sabemos que os alimentos in natura são os que preservam melhor os nutrientes`, destacou uma merendeira. ´As quantidades estimadas são assustadoras e os alimentos processados são mais caros que os in natura`, ressaltou outra entrevistada.

A ex-secretária de Educação, Juliana Guedes, que comandou a Pasta na gestão do ex-prefeito Marcus Melo, atendeu a reportagem da Vanguarda e também garantiu que a Prefeitura não comprava alimentos processados. ´Muitos alimentos processados nem podem ser ofertados para as crianças, na merenda. Nós sequer teríamos onde estocar esses alimentos congelados porque tanto o Departamento de Alimentação Escolar quanto as escolas têm freezer para as misturas, as carnes e não para legumes e frutas. Essa licitação demonstra algumas coisas: falta de planejamento, interesse em compras desnecessárias e não recomendadas, equívocos administrativos e até a tentativa de deixar um problema para a prefeita eleita, Mara Bertaiolli. A Prefeitura não é obrigada a comprar esses produtos, mas dá dor de cabeça para o novo governo`, apontou Juliana.

Problemas nutricionais

De acordo com a nutricionista materno-infantil, Daniela Grossi, o perfil de práticas alimentares na infância é um fator que impacta o desenvolvimento adequado e saudável, pois nos primeiros anos de vida se determinam hábitos alimentares decisivos à manutenção da saúde na vida adulta. Ela diz que a defesa dos hábitos alimentares saudáveis na infância é prioridade emergente devido à alta prevalência de doenças crônicas não transmissíveis relacionadas à alimentação. ´Frutas e hortaliças são alimentos que devem ser incluídos diariamente nas refeições de alunos. São alimentos ricos em vitaminas, minerais e fibras. A inclusão desses produtos na merenda escolar pode estimular a conscientização de crianças, adolescentes e jovens a respeito da alimentação saudável`, afirma.

Daniela diz, ainda, que todos os alimentos que consumimos contêm atividade biológica. Isto é, eles vão perdendo naturalmente suas qualidades nutricionais com o passar do tempo e em todas as fases de processamento e preparo: seja ao lavar, descascar, picar, cozinhar, resfriar e congelar. ´Alimentos como chuchu, cenoura, couve-flor, brócolis, laranja, abóbora entre outros têm uma grande quantidade de nutrientes sensíveis a esses três fatores, como vitaminas, enzimas e compostos antioxidantes. Mais especificamente os alimentos ricos em vitaminas C e do complexo B (como ácido fólico e tiamina) que, podem ser destruídas ou eliminadas quando processadas`, explicou a nutricionista.

Qual é a justificativa?

A Prefeitura de Mogi das Cruzes optou por nunca responder as demandas da Vanguarda desde que inauguramos este jornal, há 9 meses. Por isso, uma justificativa para a inserção de alimentos processados na merenda escolar de 2025 não será dada nesta matéria, como costumamos fazer – sempre ouvir o outro lado. Caberá à comissão de transição investigar, questionar e alterar esses planos para ofertar uma merenda de qualidade para as crianças no ano que vem.

 

 

Publicado em: 15 de novembro de 2024

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