
O prefeito Caio Cunha demitiu e recontratou, em seguida, várias vezes, ao menos 43 funcionários comissionados. A prática, no mínimo duvidosa, vem sendo feita há, pelo menos, dois anos. No total, a Prefeitura de Mogi das Cruzes teve de desembolsar mais de R$ 1,5 milhão (valor bruto) com as indenizações desses colaboradores que, em sua maioria, depois de exonerados, foram readmitidos com cargos e salários mais altos.
O levantamento foi feito pela jornalista Alessandra Shimomoto e as informações estão no próprio Portal da Transparência da Administração, no campo de gestão de pessoas. A Vanguarda já havia denunciado esse tipo de modus operandi do atual prefeito, em outras matérias, mas não com os números tão completos. ´Eu estava acompanhando essas demissões e admissões e resolvi fazer o levantamento porque todas as informações estão lá e qualquer pessoa pode ver, apesar de ser demorado e complicado. Fiz o cruzamento de dados e cheguei nessa listagem. Mas é só o começo. Sabemos que ele faz esse tipo de coisa desde 2021`, afirmou Shimomoto, que compartilhou as informações com a nossa reportagem.
Um dos casos que mais chama a atenção é do colaborador Shauy Haidar Youssef, que foi contratado, pela primeira vez, em janeiro de 2021, como diretor de departamento, ganhando R$ 10.374,24 (bruto). Foi demitido em setembro do mesmo ano e recebeu uma rescisão de R$ 18.558,37 (bruto). Então foi readmitido no dia seguinte para o cargo de diretor de departamento também, mas com salário de R$ 11,5 mil. Foi demitido, novamente, em janeiro de 2023, quando ganhou uma segunda rescisão de R$ 23.526,06. Foi admitido novamente no dia seguinte, mas desta vez em novo cargo: coordenador de modernização e tecnologia da informação, com remuneração de R$ 15,7 mil. Mas não para por aí. Caio demitiu Shauy, pela terceira vez, em julho deste ano e o funcionário de confiança do prefeito ganhou R$ 41,3 mil de uma nova rescisão. Em outubro, após as eleições, Shauy foi readmitido para o mesmo cargo anterior e segue na Prefeitura até o momento. Sozinho, na gestão Caio Cunha, ele recebeu mais de R$ 83 mil em indenização.
Apesar dos valores não serem dos mais altos da lista, mas mesmo assim serem incompatíveis com qualificações profissionais, um dos casos que também chama a atenção é o de Fulvia Daniele Silveira Paiva, filha do político cabo Chico. A Vanguarda já, inclusive, denunciou essa contratação, na época, porque, em um áudio, a moça teria dito que recebeu o cargo do prefeito em troca do pai dela ter mudado de partido e apoiado Caio e sua chapa de vereadores. Fulvia foi admitida em março deste ano, para o cargo de chefe de divisão, ganhando R$ 9,9 mil. Foi demitida em outubro, após as eleições, recebendo uma rescisão de R$ 23,7 mil (bruto) e depois foi readmitida, para o mesmo cargo e mesmo salário, estando atuante até hoje.
Outro caso, já noticiado pela Vanguarda, é o de Fabiana Camacho Bava, uma das que mais ganhou com rescisões. Ela ocupava, até o dia 10 de outubro, o cargo de coordenadora de comunicação social com salário de R$15.715,43. Foi exonerada e recebeu R$ 43.407,64 de direitos trabalhistas, já com descontos, referentes a férias vencidas, férias proporcionais, diferença de salário, 13º salário, entre outros. No dia 11 de outubro, Fabiana foi recontratada para ser chefe de gabinete de Caio, passando a ganhar R$19.773,19, um aumento de salário de pouco mais de R$ 4 mil, o equivalente a 20,2% a mais. Também atuou no Procon e foi demitida. Ao todo, ela recebeu mais de R$ 115 mil de indenização (bruto). Lembrando que se for novamente demitida, ou até o dia 31 de dezembro deste ano, pelo próprio prefeito, ou quando a prefeita eleita Mara Bertaiolli assumir, Fabiana receberá, novamente, férias e 13º proporcionais, entre outros encargos.
Cristina Aparecida Requena, que ocupava o cargo de diretora do departamento de jornalismo com salário de R$12.938,07 é outro exemplo. Ela foi exonerada no dia 10 de outubro e recebeu mais de R$ 40 mil. No dia seguinte, foi readmitida para o cargo de coordenadora de comunicação social e passou a receber R$15.715,43, ou seja, R$2.777,36 a mais, ou 15,6% de aumento no salário. Mas, antes disso tudo, foi chefe de cerimonial. Ao todo, ela recebeu quase R$ 50 mil de rescisões.
A pergunta que queremos que seja respondida pelo prefeito Caio Cunha é que razões o levaram a admitir e demitir, seguidamente, esses funcionários e a gastar dinheiro público com múltiplas rescisões? Lembrando que a prefeita eleita, Mara Bertaiolli e seu vice, Téo Cusatis, solicitaram que o atual chefe do Executivo exonere todos os cargos de comissão antes de terminar o ano. Ou seja, novas indenizações de restos de férias e 13º salário proporcional deverão ser pagas a esses servidores de confiança de Cunha, pelos contribuintes mogianos.