Por Sabrina Pacca
O poder, ou a sensação de poder, pode revelar os mais primitivos sentimentos em quem o detém. Mas perder esse poder é pior. É na derrota que alguns demonstram suas verdadeiras garras. Quando o poder envolve a disputa por cargos políticos e relação entre homens e mulheres na política, a situação se agrava.
Quer ver um exemplo? Em Mogi das Cruzes, Mara Bertaiolli (PL) venceu as eleições e vai comandar a cidade a partir de janeiro de 2025. Dois dias depois, o atual prefeito Caio Cunha (Podemos), que perdeu com uma diferença de quase 20 pontos percentuais, concedeu uma entrevista em emissora de rádio pela manhã. Se mostrou conformado. Chorou. Falou da família. Demonstrou fair-play. Desejou sucesso para a prefeita eleita.
À tarde, neste mesmo dia, postou a seguinte frase em seu story do Instagram:
´É melhor perder de pé do que ganhar de quatro`.
Caio já tinha mostrado um machismo latente antes e durante a campanha. Trancou a sua própria vice pelo lado de fora do gabinete por terem incompatibilidade ideológicas. Quando cobrado sobre a presença de mulheres em seu governo, reclamou dizendo: ´Gente, eu já tentei`. No debate eleitoral resumiu a história e a vida profissional de sua principal concorrente ao fato dela ser casada com um homem que teve seu governo, quando prefeito de Mogi, muito bem avaliado.
Agora, perdedor nas urnas, sem muito mais o que temer, solidificou seu machismo nesta frase horrorosa postada por ele e, pouco tempo depois, apagada – talvez por uma crise de consciência ou, muito provavelmente, alertado por algum assessor – não antes que desse tempo para que centenas de mogianos fizessem prints.
A repercussão passou de ´ele não sabe perder`, para ´macho escroto`, ´canalha` e ´nojento, ainda bem que acabou`.
Infelizmente o prefeito Caio Cunha não é um caso isolado. Muitos aspectos estão contidos nas relações de poder. E o gênero é um fator de preponderância ou vulnerabilidade nos ambientes da política institucional brasileira.
É o que mostra o Boletim Técnico do Observatório da Mulher contra a Violência, lançado no ano passado, que apontou que 32% das mulheres já foram discriminadas no ambiente político por conta do seu gênero. A interrupção na fala, desqualificação em função do gênero e agressão sexual são as ocorrências mais citadas entre elas numa relação política com os homens.
Mara Bertaiolli tem uma transição pela frente que, antes, havia sido prometida pelo prefeito como ´tranquila e transparente pelo bem de Mogi`. Agora, ela deve chegar munida para enfrentar este primeiro desafio com o que de melhor toda mulher tem: coragem, perspicácia, conhecimento e sabedoria. Não será a última vez que Mara, assim como Malu, Priscila, Inês, Fernanda ou tantas outras Sabrinas, Marias, Silvias, Alessandras, Jaquelines, Carlas, Anas e Simones passarão pela lâmina cortante do machismo. Mas, ao menos, o que nos conforta é que estes casos públicos colaboram para que a sociedade veja, sinta e tome uma atitude.