
Por Maria Salas
Com uma trajetória que mescla cerâmica, música e ensino de artes, a paulista Yara Patrícia Almeida Souza, a atual secretária de Cultura de Mogi das Cruzes, traz para a gestão um olhar sensível e comprometido com o potencial transformador da Cultura. Seu trabalho como ceramista reflete sua conexão com a expressão manual e ancestral das artes, enquanto sua experiência musical, como fagotista (ela toca fagote – instrumento erudito de sopro) e como professora reforça a importância de criar pontes entre arte, educação e comunidade.
Reconhecida pelo trabalho em diversas expressões artísticas, Yara reforça que sua trajetória pessoal e profissional será a base para um trabalho de ação e transformação no setor cultural da Cidade, com foco em todas as frentes culturais.
Professora de Artes, ela é formada em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, com ênfase em cerâmica. Além disso, possui especialização em Arte e Educação e História da Arte pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Yara já lecionou em escolas particulares do Município, como o Brasilis, Maple Bear e São Marcos, e também na rede estadual, com o Sentaro Takaoka. Casada com Leonard, ela é mãe de Manuela, de 12 anos, e do Gustavo, de 4 anos.
Yara recebeu a reportagem da Vanguarda, no Centro Cultural de Mogi, que abriga a Pasta, e destacou as principais diretrizes para sua gestão. A reabertura dos espaços expositivos, como museus e centros culturais, será realizada de forma gradual e planejada. Além disso, a gestora busca descentralizar as ações culturais, garantindo que atividades e projetos atinjam bairros e regiões mais afastadas do Centro. “É um trabalho de ação”, diz a secretária. Confira a entrevista:
Vanguarda Alto Tietê: Como foi o início do seu envolvimento com as artes?
Yara Almeida: Comecei bem antes de toda essa formação, num projeto social, onde fazia teatro. Depois fui para o Conservatório de Tatuí – Conservatório Dramático e Musical -, onde comecei a estudar teatro e depois comecei a estudar um pouco de música. Estudei um pouco de fagote, é o mais grave instrumento de madeira da família dos sopros. Ele costuma fazer base de orquestra, é um instrumento bem específico. Já deu para perceber que eu gosto de coisas específicas (risos). Estou na Cultura de diferentes maneiras.
Vanguarda: Como surgiu o convite para assumir a Secretaria de Cultura e como foi aceitar essa proposta?
Yara: Fui professora do 6º Ano do Ensino Fundamental II ao 3º Ano do Ensino Médio da filha da prefeita Mara Bertaiolli, a Maitê. Acredito que as crianças são um canal forte de Cultura. E a Mara passou a confiar no meu trabalho. Além disso, com o meu trabalho em cerâmica, no ateliê, onde desenvolvia projetos sociais, sempre apoiei ao Fundo Social e participei das feiras tradicionais que eles promoviam. Aceitar ao convite foi um desafio e tanto. Tive uma conversa com a minha família -, porque é uma decisão familiar, é um propósito de vida, mas eu tomei essa decisão bem tranquila, porque acredito muito na Mara e tenho nela uma referência de mulher forte, de mulher que decidiu pela vida pública, para devolver ao mogiano a Cidade. Então estou nessa empreitada de mãos dadas com ela, por acreditar muito nela.
Vanguarda: Como estão sendo os primeiros dias de Governo?
Yara: Bem intensos (risos). Estamos trabalhando muito, existem restos a pagar significativos. Então estamos trabalhando com uma equipe bem enxuta, para conseguir acertar essas contas, isso em todas as Pastas, mas estamos trabalhando muito para devolver ao mogiano a Cidade, e, principalmente os equipamentos culturais.
Vanguarda: Quais são os seus projetos? Como será o seu trabalho com as crianças?
Yara: Estamos estruturando a secretaria de Cultura para a reabertura gradual de todos os espaços expositivos para que nós possamos ter vínculo com a Educação, fortalecer as exposições, descentralizar, espalhar a cultura pela Cidade. É um trabalho de ação.

Foto: Maria Salas
Vanguarda: Desses espaços culturais, há algum específico que você pense e diga: ‘nesse aqui quero fazer um trabalho diferente, ou não’?
Yara: Todos eles requerem cuidado, atenção, zeladoria. Nós encontramos uma secretaria que passou por dificuldades com a zeladoria e estamos fazendo um processo gradual, sem prioridades. Estamos fazendo um planejamento para que todos os equipamentos sejam atendidos plenamente.
Vanguarda: Você fala em descentralizar a Cultura, o que você levaria para os bairros?
Yara: Na verdade, não sou eu que leva. Quando fazemos a democratização do acesso à arte, nós também conversamos com a comunidade para ver as demandas dela. A minha secretaria será uma secretaria de porta aberta para entender o que a comunidade precisa, o que ela quer, e, por meio dessa conversa, que é uma via de mão dupla, entender o que o mogiano precisa, seguindo, ainda, o Plano de Governo da prefeita Mara.
Vanguarda: Existe algum projeto que acabou na gestão passada e que vocês pretendem retomar?
Yara: Ainda não consigo dar uma resposta. Mas estamos cuidando de entender alguns espaços, como o Ciarte, alvo de muitas reclamações, de que é um espaço inadequado, mas que já o estamos adequando. Estamos com poucos dias de trabalho, com formação de equipe, entendendo como tudo funciona, e de valorização do servidor.
Vanguarda: Como foi a recepção dos artistas da Cidade, ao saberem que você iria assumir a Pasta da Cultura?
Yara: As devolutivas foram bem positivas, inclusive dos vários alunos que tenho, e que me impulsionam para cima e para frente, que estão vendo a professora de Arte ocupando outro lugar. Hoje, são pessoas adultas e que consomem Cultura de outra maneira. Já os artistas, o meu envolvimento maior é com os ceramistas, não que eu vá trabalhar focada somente neles, que fazem um trabalho mais recluso, em ateliê. Mas não se pode esquecer que o trabalho dos ceramistas na Cidade é maravilhoso.
Vanguarda: E em relação aos artistas da música?
Yara: Nós já estamos recebendo grupos de artistas nesse movimento de escuta e de fazer com que a Secretaria de Cultura seja de fato um espaço democrático, onde todos tenham voz. Uma das ações imediatas que já estamos fazendo é a abertura de editais para que qualquer mogiano, que resida em Mogi, por no mínimo dois anos, possa usar os equipamentos da Cultura. Já encerramos dois: o de uso do Theatro Vasques e do EMAM (Estúdio Municipal de Áudio e Música). E muitos outros editais serão lançados, mostrando que os equipamentos municipais possam ser usados por todos.
Vanguarda: Além disso, já há outras ações em andamento?
Yara: Sim, nós temos outras ações que são relacionadas aos projetos, por meio do qual qualquer artista, propositor de arte, pode propor projetos culturais, usando Leis de Incentivo à Cultura, ou seja, há diversas maneiras de se conseguir esses incentivos. E para que mais pessoas sejam beneficiadas, já estamos criando um manual prático, que será divulgado em breve, para que qualquer cidadão proponha o seu projeto. Existem vários programas onde se consegue financiamento direto ou então Leis de Incentivo à Cultura, em que, depois do projeto ser aprovado, o artista faz a captação de recursos com a iniciativa privada.
Vanguarda: A Cidade possui duas grandes festas tradicionais e culturais: a do Divino Espírito Santo e a do Akimatsuri. De que forma a Secretaria irá ajudar a essas duas festividades?
Yara: O mais importante é que a Cultura já existe, indiferente do poder público, ou não, e o nosso papel é apoiar com que essas manifestações ocorram da melhor forma possível. Eu, como professora, fiz muitos tapetes ornamentais para a procissão de Pentecostes. Já o Akimatsuri foi a primeira festa que prestigiei na Cidade, quando eu ainda namorava o meu marido. Eu me casei e me mudei para Mogi, onde estou há 19 anos. Eu me encantei pelo taiko (tambor japonês). Além disso, todas as outras manifestações que existem em Mogi precisam ser valorizadas e nós faremos um movimento para a secretaria de Cultura apoie sempre e cada vez mais.
Vanguarda: Deixa uma mensagem final para o nosso leitor?
Yara: Tem uma frase do Ferreira Goulart que diz assim: “A arte existe porque a vida não basta”. A arte nos ajuda a transpor essa vida mais difícil.